Forte de Coimbra: a Câmara de Tiro do 1°/6° GACos.

Por Luiz Eduardo Silva Parreira


Escadarias do Forte de Coimbra, guardadas por 2 canhões 
Whitworth, modelos 1863, de 32 libras (97mm) e 1 canhão 
Whitworth, modelo 1881, de 70 libras (127mm). O espelho 
da escada do forte é formado por granadas de Whitworth 
de 32 libras.
No último dia 13 de setembro, o Forte de Coimbra completou 236 anos de fundação. Desde sua criação até 1992; por 217 anos, o Forte teve como principal função impedir a livre navegação de navios inimigos pelo Rio Paraguai.


A despeito de estar a mais de 1.200 quilômetros do litoral, o Forte de Coimbra era até então uma unidade de Artilharia de Costa, justamente porque utilizaria seus canhões para afundar embarcações, quando ordenado. A unidade que se ocupava dessa missão era a Primeira Bateria do Sexto Grupo de Artilharia de Costa (1°/6° GACos).


Flâmula do antigo 1/6 GACos. Vê-se nela as duas maiores datas daquela praça de guerra:
1801 e 1864, que em outros posts comentaremos.

Mas atirar em um navio não é algo simples, pois os artilheiros têm de calcular o local provável que a embarcação estará depois do tiro dado pelo canhão. E isso não se faz com adivinhações, mas com cálculos. Tudo numa época pré-computadores (veja o esquema abaixo).




Portanto, até a ordem de "peça fogo!", vários militares tinham de captar dados, estudá-los, projetá-los em réguas e mesas de cálculos para então enviar essas informações aos canhões para só então eles serem disparados. Esse procedimento matemático era feito na Câmara de Tiro. E no Forte de Coimbra não era diferente.

Câmara de Tiro (plotting room) de uma unidade de Artilharia de Costa do Exército dos EUA,
utilizando uma mesa semi-cisrcular para cálculos de artilharia. Em Forte de Coimbra há uma como essa. 

Mais dados aqui.

Outra visão da mesa de cálculo.
Clique na imagem para ampliá-la.

Esquema de utilização das câmaras de tiro da artilharia de costa.
Fontes: Plotting Board e Coast Artillery fire control system.
Clique na imagem para ampliá-la.

A partir de meados do século XX o Exército Brasileiro deixou de utilizar a estrutura da fortificação em si como posição ativa de tiro e instalou no mesmo morro da fortaleza, mas num ponto mais distante (e melhor posicionado para tiros de destruição) canhões mais poderosos dos que já haviam ali. Num primeiro momento, quatro canhões Armstrong de 6 polegadas. Desativados na década de 80, foram substituídos por canhões Vickers-Armstrong, também de 6 polegadas. Perto deles, foi construída a câmara de tiro.


Local aproximado de onde se encontram a Câmara de Tiro e os P.O. do Forte de Coimbra.
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Os dois canhões de 6 polegadas que o Forte de Coimbra utilizou.
Da década de 40 até a de 80 (Armstrong) e dos 80 até 1992 (Vickers-Armstrong).
A foto da direita foi o último tiro de artilharia em Coimbra.
Clique na foto para ampliá-la.

A câmara de tiro de Coimbra foi construída em 1943, dentro das especificações do Plano Pratti de Aguiar, seguindo o padrão dessas estruturas que o Exército dos Estados Unidos (USArmy) fazia desde a década de 30 e que mostrou sua utilidade durante a Segunda Guerra Mundial, mais notadamente na costa dos Estados Unidos da América e nas ilhas do Pacífico.


Exemplos de construções dos EUA de defesa costeira.
São postos de observação, similares aos do Forte de Coimbra.
Fonte: SeaCost Defense
Até a vinda dos Vickers-Armstrong, os artilheiros coimbrenses faziam seus cálculos com base nos instrumentos da década de 40, como a mesa de cálculo. Já para esses "novos" canhões, o Exército Brasileiro levou para o Forte de Coimbra o telêmetro de base vertical, cuja estrutura para sua colocação ainda está no local. Projetado em 1941 pela empresa DF Vasconcelos, foi sempre empregado junto com o referido canhão nas unidades de artilharia de costa do EB. Uma peça revolucionária para seu tempo (substituiu a mesa de cálculo), mas completamente arcaica para o século XXI.

Base do telêmetro em Coimbra. Ao fundo o Vickers-Armstrong de 6 polegadas.
Arquivo: Luiz Eduardo Silva Parreira
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Base e telêmetro - iguais aos utilizados em Coimbra - no museu da
Brigada de Artilharia de Costa e Antiaérea - Guarujá, SP.
Acervo de Luiz Eduardo Silva Parreira.


Um telêmetro DF Vasconcellos completo, do Forte de Copacabana
Cortesia Historiador Adler H. F. de Castro.
Clique na foto para ampliá-la.
Desde 1992 que a artilharia deixou de ser a arma que guarda o Forte de Coimbra. Por conta disso, a câmara de tiro (e os pontos de observação) foram desativadas e abandonadas e hoje estão em ruínas. As fotos abaixo foram feitas em 2002. Hoje (2011) o estado das construções deve estar bem pior (fotos acervo Luiz Eduardo Silva Parreira).


Ponto de Observação (PO) tipo Pratti de Aguiar. No Brasil, mais
de 140 PO desse tipo foram construídos.


Visão do Rio Paraguai de uma das janelas blindadas do
Ponto de Observação (PO) tipo Pratti de Aguiar.







Segundo o Historiador Adler Homero Fonseca de Castro, "a existência de um PO do tipo Pratti de Aguiar indica que havia outro PO - são sempre feitos aos pares, bem afastados uns dos outros (no caso de Coimbra, deveria ser, no mínimo, quatro quilômetros e meio: a distância de base entre os POs deveria ser igual, no mínimo, a um terço do alcance da peça). Considerando a falta de elevações na região, creio que tiveram que dar um "jeitinho" e devem ter instalado o outro PO no morro em frente, do outro lado do Rio".

Transferidor de Derivas e Alças.

Mesas de cálculo.

Corretor de Direção de Tiro M-1, de 1942.

Para se operar o material de pontaria eram necessários 22 militares. Eles ficavam na câmara de tiro.







Apenas para não perder o costume, rememora-se alguns dados do Forte de Coimbra: O Forte de Coimbra é um destacamento militar do Exército Brasileiro, distante cerca de 100 quilômetros de Corumbá, às margens do Rio Paraguai, à jusante dele. Existe desde 1775 (!) e tem muita história para contar, as quais aos poucos iremos retomar, passando, inicialmente e preferencialmente, por fatos pouco lembrados, mas não menos importantes. Desde 1992 a unidade militar que administra o Forte de Coimbra é da arma de Infantaria, hoje a 3ª Companhia de Fronteira/Forte Coimbra (3ªCiaFron/FC). Antes era um quartel de Artilharia, sede da 1ª Bateria do 6º Grupo de Artilharia de Costa do Exército Brasileiro (1ª/6º GACos).

O então Sargento Parreira, que chegou a dar instrução de tiro na 
câmara de tiro do 1/6 GACos.



O "esquema de transmissões" abaixo mostra o material necessário para uma bateria de obuseiros de costa Seria o mesmo para o Forte de Coimbra, menos dois observadores.


Cortesia de Adler Homero Fonseca de Castro.
Clique na imagem para ampliá-la.


O Historiador Adler Homero Fonseca de Castro é autor do livro Muralhas de Pedra. Canhões de Bronze. Homens de Ferro. Fotos do lançamento podem ser vistas no site da Fundação Cultura Exército Brasileiro.

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